segunda-feira, 24 de julho de 2017

A economia é aquela ciência de exatas que se reputa às de humanas.
No zoodíaco seria capricórnio com ascendente em leão, racional e impulsiva em contra-medida.
Na mitologia seria um deus temperamental e severo.

Desde os cenários de queda ou de expansão os motores das relações econômicas capitalistas não são propriamente números, cálculos, déficits ou índices de 6 dígitos iniciados em zero seguidos de vírgula e terminados em zero alcançados através de fórmulas incompreensíveis.
Mas, são sim, as expectativas.

A tendência à confirmação da possibilidade de realização para seus investimentos é o que instrui Joesley, Elisa da cantina, a menina de treze anos e eu.

O capitalista decide investir seu capital pela sua expectativa de lucro, o trabalhador gasta seu salário pela expectativa de sobrevivência, a classe média gasta suas economias com a expectativa de ascensão social, a menina de treze anos gasta horas do dia pensando nos dias à frente, eu gasto meu salário,
minhas horas,
meu pacote de internet
e
meu sol em leão pensando
em você.

Os códigos que orientam nossa ação resumem toda uma vida escanchada na lida com as expectativas que estão agora mesmo
em pé
aqui
na nossa sala enquanto escrevo, leio e tento
não pensar em você.

Passou uma tempestade por aqui e talvez você nem tenha notado, mas nas paredes pode vê a marca da água que inundou os cômodos. Inclusive, alguma parte do alicerce cedeu e deveríamos realmente estar preocupados com isso, porque isso parece uma coisa preocupante.
Apesar de não fazer sentido algum pensar em alicerces, já que falamos de expectativas.

Me diga qual das suas expectativas tem fundação e foi feito nivelamento no terreno?
Te respondo que nenhuma.
Qual resistiria a terremotos e enxurradas como as que vimos aqui esses dias?
Te respondo que todas.
Já te falei que elas estão
aqui
de pé
agora mesmo.

Os seus alicerces são pendentes e vagos.
E são sofisticados como os das construções incas preparadas para resistir,
são feitas de fôlego.

Mesmo a não realização da expectativa não põe a ela fim,
porque ela persiste
em pé
aqui na sala.
Dizendo como deveria ser.
E dura nos dias como frustração, como injustiça, como mau olhado, como inferno astral, como dor.

A expectativa em pé diante de mim nessa sala me rende.
Entrega minha devoção à juventude descompromissada, o apego à passionalidade, a afeição pela conquista e pelo conquistador
é tudo o que sou
sendo substância para ela.

Olha-la daqui a torna estúpida. Sobretudo, sobre a estupidez são feitos os alicerces das expetativas.
Mas, a cousa, o ente, o ato perjura existência
e se mantém aqui
em pé
no meio da nossa sala.




segunda-feira, 3 de julho de 2017

Corrigir a posttura, escovar os dentes, usar vestidos coloridos. Hábitos adquiridos.

Repetiram-me tantas vezes e por tantos dias seguidos uma ideia
que,
Hoje, eu não sei mais como eram os dias nos quais isso não fazia sentido:
Você deve reler o texto.

O mesmo já lido. relido. grifado. comentado.
Você deve reler o texto.
E reli o texto tantas vezes quantos foram os dias do ano.
Hábito adquirido.
E reli também anos depois.
Quando fui tomada pela surpresa da condição transitória do conhecimento.
Minha estante parece um calabouço abarrotado de novas memorias para serem esquecidas em seguida.

Quando, então, novamente me surpreenderei em uma nova casa,
com um filho fluente em português
com títulos emoldurados
com um amor que se misture comigo enquanto leio mais uma vez um texto já relido.