sábado, 3 de janeiro de 2009

Telha de vidro

      Quando a moça da cidade chegou
      veio morar na fazenda,

      na casa velha...
      Tão velha!
      Quem fez aquela casa foi o bisavô...
      Deram-lhe para dormir a camarinha,
      uma alcova sem luzes, tão escura!
      mergulhada na tristura
      de sua treva e de sua única portinha...

      A moça não disse nada,
      mas mandou buscar na cidade
      uma telha de vidro...
      Queria que ficasse iluminada
      sua camarinha sem claridade...

      Agora,
      o quarto onde ela mora
      é o quarto mais alegre da fazenda,
      tão claro que, ao meio dia, aparece uma
      renda de arabesco de sol nos ladrilhos
      vermelhos,
      que — coitados — tão velhos
      só hoje é que conhecem a luz doa dia...
      A luz branca e fria
      também se mete às vezes pelo clarão
      da telha milagrosa...
      Ou alguma estrela audaciosa
      careteia
      no espelho onde a moça se penteia.

      Que linda camarinha! Era tão feia!
      — Você me disse um dia
      que sua vida era toda escuridão
      cinzenta,
      fria,
      sem um luar, sem um clarão...
      Por que você nao experimenta?
      A moça foi tão bem sucedida...
      Ponha uma telha de vidro em sua vida!

[Raquel de Queiroz]

.escutei atentamente.
aguardava terminarem os discussos e chegar a hora dos abraços.
.foi lido por em papel de pão.
Porque como dito pela oradora, ela não guardava mais na memoria as poesias de criança. entre o som da sanfona, quase lágrimas e risos tímidos. o presente foi dado à mim e não à aniversariante.

3 comentários:

Beterraba disse...

belissimo!
se aproveitou do aniversário alheio...heheh

xeru qerida Telhesa de Vidro!

Teresa Maia disse...

Be'telhas'ba de vidro. é tu!

Neta. Evenice Neta disse...

Posso ser a alcova a acolhê-los? ;**