segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Desce ladeira. Sobe ladeira. A terra ardendo. Desce mais uma vez. E quem desce tem sempre que subi de novo. Esse um resumo da minha procissão por uma partezinha do sertão.
Era colorido muito. Alegrava o caminhar. Mas, quando você busca por uma hora e meia um lugar pra almoçar e não encontra, o mal-humor é o que lhe forra o estômago.
Passada por esta etapa e de buchim cheio. Voltamos a andarilhar. Afinal, há muita coisa para se ver. E colorido voltou, morto de lindo. E eu, lá. Nascida e criada na capital, toda faceira, querendo fazer parte do cenário. Coloquei até chapéu de couro. Amarrei fitinha no portão.
Mas, não se fazem mais interiores como antigamente, ninguém me deu um arrancho no pingo do mêi'dia. Sentei no batente e descancei um pouquim.
Cada pedacim de gente, de santo, de feira, de calor que eu via, eu lembrava do meu pai e do meu avô. Eles já tinham me levado neste lugar.
Meu avô já viu onça virar bode. Já deu arrancho a matador. Já colheu e deu pro santo agradecendo a chuva boa. Me ensinou a amarrar as alpragatas, à abrir a porteira, a sentar na calçada de tardezinha.
Me ensinou mais um magote de coisa que não lembro neste instante. Ah. me ensinou também a fazer verso. Não aprendi muito bem. Num tenho muito ritmo pro cordel. Acho que tem que virar música quando você vai falando e o meu é desafinado. num rima.
O seu verso preferido é um falatório das lembranças da Paraíba. canta as florzinhas do jardim da mãe dele. a saudade dos irmãos. a plantação. a vontade de voltar pro lado de lá dos Inhamuns. Meu pai, já tem menos graciosidadena cantoria. Mas, é um talento pra contar historias das secas de 50, de 60, de 70. Depois fala do verde dos óio se espalhando na plantação. E andava a cavalo. Montava touro bravo. comia fruta do pé. cuidava dos irmãos. mel de jandaíra. e ainda menino deitava na sombra do pé do juazeiro e tirava um cochilo.
Mas, nem só de coisa boa vive o sertão. Eu sei. Meu avô também me contou. Sei da terra guardada nos bolsos dos Dr.'s. Sei da judiação do sol e da terra seca. Mas, sei muito pouco.
Nesse sobe ladeira. desce ladeira. as historias contadas acompanharam-me como que uma trilha sonora.


" Que braseiro, que fornalha
Nem um pé de plantação
Por falta d'água perdi meu gado
Morreu de sede meu alazão

Hoje longe muitas léguas,
nessa triste solidão,
espero a chuva cair de novo,
pra eu voltar pro meu sertão." (Asa Branca)

2 comentários:

Unknown disse...

a gente sempre tem um pé lá no sertão...
e juntando com o outro pé e caminhar por lá, soa-me muito bem!

senti falta do bain de açude, daqele q a gente tem q andar um bucado, atravessar cerca de arame e refrescar debaixo daqele céu de um azul q só tem no sertão...

^^

Teresa Maia disse...

Adoro baín de açude... senti falta de tu pra tirar fotos comigo!!!